Papa Francisco continua sendo um ponto de interrogação. Escaldados por décadas de liderança retrógrada na igreja Católica, ainda não dá pra ter muita certeza de que o Vaticano está tentando se ajustar aos tempos atuais. Mas os sinais continuam a aparecer, ainda que tímidos.
O Vaticano tomou a iniciativa (infelizmente, nada comum) de pedir uma pesquisa mundial sobre como as paróquias lidam com questões delicadas como controle de natalidade, divórcio e casamento gay, buscando recolher informações para uma grande reunião para tratar da questão da família que o papa está planejando para o ano que vem. O questionário foi enviado no meio de outubro para as conferências nacionais de bispos do mundo inteiro, com um pedido de seu coordenador no Vaticano, arcebispo Lorenzo Baldisseri, de “compartilhá-la imediatamente o mais amplamente possível para decanatos e paróquias, para que se recebam informações de fontes locais.”
A pesquisa vai ao encontro dos pedidos de Francisco para que se mude de uma visão “vaticanocêntrica” da igreja para uma em que os líderes locais estejam mais envolvidos nos processos de decisão.
Entre as questões estão se o casamento gay é reconhecido no país, e como os padres pregam para casais homoafetivos. Também como as paróquias lidam com casais gays que buscam educação religiosa ou Comunhão para seus filhos. Outra questão é como a “misericórdia divina é proclamada” para casais separados, divorciados ou em segundo matrimônio, além de como se lida com casais heterossexuais que vivem juntos sem terem se casado. E, com apenas uns trinta anos de atraso, questiona se homens e mulheres casados seguem as orientações da igreja contra o uso de anticoncepcionais (a gente sabe a resposta: não).
O documento que pede a pesquisa ainda indaga sobre casamentos interreligiosos, famílias com apenas um dos pais, poligamia, a presunção dos jovens atualmente de que casamento não é mais para sempre, e formas de feminismo hostis à igreja Católica. Estas informações serão usadas num sínodo que o papa Francisco planeja convocar em 2014 para discutir os “desafios pastorais da família no contexto da evangelização”. É o terceiro sínodo a ser convocado desde que o papa Paulo VI reestabeleceu esse tipo de convocação em 1965. O último sínodo aconteceu em 1981, com o papa João Paulo II. Parece que finalmente até o Vaticano está vendo que o mundo mudou, por mais que a santa Sé desaprove.
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